20/08/2012

Então eu disse para ir embora, disse pra seguir seu caminho. Ele continuou, sem nenhum motivo claro e sem nenhuma razão aparente, disse só que me amava e por isso não iria se mover (como se eu merecesse toda essa atenção da parte dele). O caminho é in, o caminho é dentro. Se você quer ficar, fica. Só não prometo arrumar o telhado, nunca quis arrumar as telhas, você não sabe o medo que eu tenho de subir até lá. Tudo bem, é por você, eu faria esse esforço se soubesse onde está a escada. É minha prova de amor, até o fim desse texto quem sabe mude de ideia e resolva arrumar o telhado, você ficaria feliz? (se eu achasse a escada, seria mais fácil... a casa está uma bagunça e eu não quero acender as luzes. odeio claridade e telhas novas) você se importa muito com isso né? São só telhas, Lucas. Qual o problema em deixarmos o telhado assim?(...) Eu não sei sobre telhas, teria de aprender a coloca-las uma a uma, mas, uma coisa eu sei bem (não é sobre telhas, mas, é quase isso) deve ser amor essa minha vontade de dormir e acordar com você todos os dias, mesmo com o telhado desse jeito, deve ser amor também as flores que você não mandou e os chocolates que você não me deu. A casa está uma bagunça, não mereço flor nenhuma, não enquanto o telhado estiver desse jeito.
E sabe mais? também é amor as nossas discussões sempre pelas mesmas coisas. Essa droga desse telhado, eu gosto dele assim, faz parte da casa, para de me infortunar com isso.
Você me cansa e eu te canso, ai a gente deita junto e sonha, sonha as mesmas coisas e sonha sempre em esquecer. Esquecer de tudo, esquecer de todos. Você me cansa muito e eu te deixo exausto.
Não aguento mais você desejando arrumar essas telhas, para, deita aqui, as telhas estão aos cacos, não precisamos ficar como elas. Lucas? Você tá me ouvindo? (...)
Você deita no meu colo e eu te abraço porque já estamos cansados demais pra dizer qualquer coisa um para o outro. Só consigo pensar o quanto você me cansa e o quanto eu te perturbo.
Cansamos tanto que não consigo nem respirar.  Não Lucas, não são as telhas e  nem o ar. Tem oxigênio aqui, mas, você me cansa tanto que eu não tenho forças pra inspirar. Tá entendendo agora? Tem como me deixar respirar, só um pouco?
Não dá, não sinto nenhuma parte do meu corpo, só sinto o seu coração batendo sobre o meu peito. Estamos deitados, mais uma vez e o telhado continua entregue as traças. Além de não conseguir respirar por causa do cansaço, agora tem todo o peso do seu corpo sobre o meu. Eu repito mais uma vez pra você ir embora, não consigo nem respirar com o meu próprio peso e eu mesma vou dar um jeito nessas telhas. Torna-se impossível respirar com suas lágrias escorrendo pelo meu pescoço e eu estou desistindo de tentar arranca-lo de cima de mim, de dentro de mim. Lucas, eu te imploro, estou cansada, me deixa respirar, não consigo me sentir. Por favor, me deixa respirar.
Enquanto me sentia sem ar, algo me disse pra confiar nele e quebrar as telhas e esquecer tudo e me deixar perder o folego por completo, de uma vez, sem volta... ele cuidaria de mim ou então, eu perceberia que ninguém aqui cuida de ninguém.
Se tivermos sorte, não irá chover e eu prometo a você arrumar a casa e as telhas...Me trás flores amanhã? a casa estará impecável se conseguirmos superar essa noite sem ar. Vou colocar toalhas novas no banheiro e tapete limpo na sala. Eu prometo.
Como uma criança, confiei todo o meu corpo e os meus medos a ele e perdi o ar, perdi o chão, perdi o sentidos... Lucas, por favor, me deixa respirar. Lucas? (...) Você não estava mais aqui e o que me roubava o ar, era eu mesma. Era os meus passos tortos, os meus pesos desnecessários e era a minha própria angustia em ver o telhado nesse estado.  Você só alimentava tudo que eu tinha aqui a parte boa e a parte ruim de mim.
Foi me perdendo que eu me achei, foi ficando sem ar que tive a primeira sensação de estar viva e respirei fundo, sentindo cada parte inerte do meu corpo despertar, foi te mandando ir que percebi que o que eu queria era que você ficasse!
Acho que você sempre sabe o que eu preciso, você nunca me deixa respirar direito e não arruma a porra do telhado. Lucas, corre aqui, vai chover! (...) Deita aqui meu amor. Antes que o mundo me obrigue a voltar a respirar.
A chuva na pele me trouxe a melhor sensação que eu já tive, você me ensinou que só perdendo o telhado que se ganha as estrelas. Acho que eu não quero nunca mais respirar! Fica aqui, daqui a pouco amanhece lá fora e aqui dentro. 

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